A colher de pau estava esquecida no canto da cozinha, enquanto a panela de ferro descansava lindamente sobre o velho fogão à lenha.

Eis que a experiente cozinheira chega ao seu lugar preferido: o cantinho da cozinha.

Quantas lembranças de temperos, aromas e sabores.

Quantas lembranças de conversas e prosas.

Saudades até das discussões.

Ela sabia que era boa na arte da culinária.

Ela sabia também que era boa na arte de contar histórias.

Boa em apaziguar desavenças.

Uma verdadeira artista dos sabores e das palavras.

Espantou os pensamentos, porque o almoço não podia esperar.

Ateou fogo na lenha, que rapidamente se transformou num lindo braseiro e aqueceu o tampo de ferro fundido.

O palco estava pronto para receber a estrela da cozinha.

Trouxe a a panela de ferro para junto do fogo.

Olhou para o canto da cozinha e sorriu. Lá estava ela.

Pegou a colher de pau e depositou na velha panela a banha curtida nos dias passados, com a paciência da espera.

Uma generosa porção de carne de porco foi acomodada numa cama de cebolas, alho e ervas da horta.

Como uma artista foi pintando a sua obra com legumes coloridos.

A fumaça não venceu a disputa com os aromas dos temperos, que já dominava a casa, e foi derrotada.

O braseiro ganhou força e teve que ser contido. Afinal o cozido não podia passar do ponto.

De tempos em tempos a colher de pau regia a dança no palco da panela de ferro.

As marcas de muitos cozidos eram testemunhas do seu incansável trabalho.

E, na sua simplicidade, tornou-se essencial para o sucesso de mais um almoço de domingo.

Assim somos nós, pensou a experiente cozinheira:

  • Uns frágeis, como a colher de pau, outros fortes, como a panela de ferro.

E sussurrou, olhando as velhas companheiras:

  • Sem uma a outra não poderia brilhar.

Assim permaneciam unidas: colher de pau e panela de ferro.

Numa parceria imbatível!

Ensinando, pelas mãos amorosas da experiente cozinheira, sabores e lições da vida…