Permanecia imóvel em oposição às intempéries do campo, cumprindo silenciosamente a sua tarefa de espantar.

Deselegante, malvestido, incompleto…

Olhar perdido no horizonte, totalmente sem graça.

Entretanto, os braços abertos, que não combinavam com a sua rude tarefa, lembravam o abraço que não veio.

Boneco com vontade de ser gente.

E às vezes, com o seu balançar ao vento, parecia ganhar vida e ser gente de verdade.

O menino, que todos os dias por ali passava, se encantava.

Sempre parava em frente ao espantalho e permanecia sonhando com o seu amigo.

Não via os defeitos das palhas que saiam das roupas gastas.

Via uma criatura encantadora, cercada de mistérios…

Permanecia com o seu amigo até o por do sol, quando ele reluzia e roubava um belo sorriso do menino sonhador.

O tempo passou e o menino se fez homem.

O campo foi engolido por prédios e pela ausência de sonhos.

O espantalho se foi…

Entretanto, o menino e o espantalho permaneceram vivos nas memórias daquele homem, que nunca deixou de sonhar…