– Não posso te ensinar mais nada nessa existência!

As palavras eram ditas com dificuldade.

O jovem acomodou-se mais próximo de seu avô e mestre. Sua mão tocou respeitosa e carinhosamente a fronte do ancião e percorreu os cabelos prateados.

O velho sábio sorriu e seu sorriso iluminou o humilde aposento, austero e de poucas comodidades como seu morador.

Em seguida, fitando os olhos do neto, disse em tom solene:

– Em breve voltarei para a “casa”!

– Nossa passagem nesta vida é breve diante da eternidade!

O jovem entregou-se à emoção e lágrimas correram pelo rosto, que emoldurava um profundo pesar.

Concordo com o senhor.

Uma breve pausa se fez. 

Apesar da respiração ofegante e do cansaço, era preciso prosseguir.

– O que levamos conosco dessa breve  jornada ao voltarmos para a “casa”?

– Nossos tesouros? Nossas posses e bens?

Nossos títulos terrenos?

Uma longa pausa. Agora deixando o neto discípulo refletir e responder.

Não. Com certeza não.

– O que levamos conosco?

O senhor me ensinou que os tesouros da alma.

– E para você quais são os tesouros da alma?

Família, amigos, honra e servir.

– Qual a palavra que pode resumir tudo isto?

Amor!

– Sim. Somos filhos e filhas do Amor. E somente quem ama é poderoso. Amor é o verdadeiro Poder. 

Reconheço seu Amor e seu Poder, disse solenemente o jovem.

– Ainda assim, a grandeza de quem ama e é  poderoso está em servir. 

Respirou profundamente, como se quisesse que a sua voz soasse mais forte.

– E quem possui Poder tem o dever de Servir. 

Após uma nova pausa.

– Acredite, só fui poderoso nos gloriosos dias em que servi.

Sentindo que chegava o momento da partida, pediu que o jovem discípulo se aproximasse e, após um longo beijo de despedida, sussurrou:

– Seja senhor do seu destino!

– Ame incondicionalmente!

Os olhos do velho amigo da verdade, como era conhecido e reconhecido, deixaram de ver este mundo. 

Ajoelhado aos pés do ancião, como era tradição do seu povo, e respeitosamente tocou os pés do seu mestre e disse as palavras:

Que a viagem de volta para a “casa” seja    abençoada!

E tomado de emoção segurou a mão do velho mestre e afirmou:

          Eu serei senhor do meu destino…