Iniciamos, com este post, a série “Conto Contos”.
Vamos publicar, a cada semana, um conto de nossa autoria.
Segue o primeiro conto da série intitulado “A Carruagem”:
Seguia ele na carruagem, vaidoso e soberbo, entre a multidão esfaimada, humilhada pela carência, pela falta de tudo.
A riqueza reluzia nas jóias, cujo brilho intimidava os que dele se aproximavam.
Sorriso sarcástico e com sua voz rouca e dissimulada afirmava que somente o Sol era capaz de ofuscar a sua glória.
Indiferente, seguia ele na carruagem.
Vestimentas cor magenta, resultado da mistura de azul e vermelho, suas cores prediletas.
Luxo e luxúria…
Arrogância e prepotência com que se apresentava contrastavam com a dignidade rasgada em farrapos da humilhação dos invisíveis.
A miséria fazia-se nos andrajos do sofrimento.
Não havia contentamento nele. Apenas uma alegria fugidia.
Não havia espaço na sua alma para o desprendimento e para a renúncia, pois a ganância já o havia tomado por completo.
Apressado, seguia ele na carruagem.
Sem tempo para olhar os olhos sem brilho. Brilho roubado pela dor e pela desilusão.
Sem tempo para ouvir os lamentos de muitos. Sem tempo…
Confortável, seguia ele na carruagem.
Entre o desconforto dos pés descalços feridos pelas pedras do caminho.
Solitário, seguia ele na carruagem.
O ranger das rodas abafava os gritos da dor.
E na carruagem ele, simplesmente, seguia…
Namastê!