Por muito tempo tivemos que conviver com o condicionamento religioso das figuras teológicas do Céu, Inferno e Purgatório. 

Nessa interpretação da Justiça de Deus os pecadores seriam punidos temporariamente no Purgatório ou eternamente no Inferno; os virtuosos herdariam o Céu, o paraíso.

A ideia das penas eternas trouxe o sofrimento e a dor como instrumento de Justiça de Deus. A Justiça Divina foi negociada por indulgências e perdões terrenos. A concepção de um Deus que pune e castiga nos afastou da ideia consoladora de um Deus que Ama, Educa e Perdoa seus filhos.

Na obra intitulada “O Céu e o Inferno” Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, apresenta em um dos seus capítulos o que ele denominou de Código Penal da Vida Futura. 

No primeiro item desse Código encontra-se a afirmação de que:

“A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as consequências de todas as imperfeições de que não se libertou durante a vida corpórea. Seu estado feliz ou infeliz é inerente ao grau de sua depuração ou das suas imperfeições.” 

Entretanto, as consequências dos erros por força de suas imperfeições não têm duração eterna.

“Toda criatura é destinada à felicidade. A Misericórdia Divina providencia as chances necessárias para nossa depuração, pois sempre haverá tempo de arrependimento, tempo de expiação e necessidade de reparação. A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas, conforme as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida.”

E prossegue que:

“não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do castigo: a única lei geral é que toda falta terá punição, e terá recompensa todo ato meritório, segundo o seu valor. A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado.”

Destacam-se ainda nessa obra importantes conceitos no entendimento na transformação do espírito imortal:

Arrependimento – Tomada de consciência sobre o que foi feito de errado e sobre o que deve ser corrigido;

Expiação – Sofrimento ou dificuldade que leva à total entendimento e depuração do mal causado;

Reparação – Quando já existe condições de reparar o que foi feito de errado ou mal perante os prejudicados. Serve como resgate de débitos e é uma chance de se provar o progresso real da moral.

O Espírito é sempre o artífice do seu destino, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do Bem.

Essa é a lei da Justiça Divina: a cada um segundo as suas obras, tanto no céu como na Terra.

Lei de Causalidade. Lei de Causa e Efeito.