Hipócrates no seu Corpus Hipocraticum (século IV a.C.) afirmava que “a doença não existe, o que existe são os doentes”, centrando, assim, o tratamento no doente e não na doença.

“A doença é produzida pelos semelhantes e pelos semelhantes que o produziram (…) o paciente retorna da doença à saúde”.

Destacamos o parágrafo do Organon da Arte de Curar que fundamenta a lei da similitude, essencial no processo de cura homeopática, com o nosso respectivo comentário:

§ 23 – “Toda a experiência pura, contudo, e toda a pesquisa perfeita nos convencem que sintomas pertinazes de moléstia estão longe de serem removidos e eliminados por sintomas opostos de medicamentos (como no método antipático, enantiopático ou paliativo), que ao contrário, após alívio aparente e transitório, recrudescem com denotado vigor e agravam-se manifestamente (vide §§ 58, 62 e 69)”.

Observa-se, neste parágrafo, o efeito patogenético (sintomas mórbidos) das substâncias e a sua cura pelo princípio da similitude. Hahnemann utilizando-se da lógica aristotélica indutiva, “modus ponen”, enunciou o princípio de cura pela similitude “para uma substância medicinal curar sintomas no indivíduo doente ela deve causar sintomas semelhantes no indivíduo sadio”. Hahnemann defendia que o mecanismo de ação dessa racionalidade médica se dá pela indução de uma doença artificial provocada pela medicação homeopática que removeria a doença natural em decorrência da similaridade de ambas.

§ 27 – Portanto, o potencial curativo das substâncias medicinais depende do fato de sua ação produzir sintomas semelhantes os da doença e ser superior em força. Desta forma, cada caso individual de doença só é destruído e curado da forma mais segura, radical, rápida e permanente com o medicamento capaz de produzir, de forma mais semelhante e completa, a totalidade dos sintomas daquela doença e que ao mesmo tempo seja um estímulo de categoria mais forte do que o que provoca a doença”.    

Hahnemann considerou dois efeitos possíveis aos medicamentos, reforçando a ideia de que os semelhantes curam os semelhantes: primário – todo medicamento produz alteração na saúde do indivíduo por um período mais ou menos longo; e secundário – ação oposta à primeira, de resistência e conservação do estado prévio à ingestão do medicamento. Observa-se que Hahnemann estabeleceu o conceito (hipótese) que a cura homeopática se daria (vide parágrafos 26 e 69) graças à alteração ou desarranjo semelhante e mais forte provocado pelo medicamento dinamizado (doença curativa).

§63 – “Toda força que atua sobre a vida, todo medicamento afeta, em maior ou menor escala, a força vital, causando certa alteração no estado de saúde do Homem por um período de tempo maior ou menor. A isso se chama ação primária. […] A essa ação, nossa força vital se esforça para opor sua própria energia. Tal ação oposta faz parte de nossa força de conservação, constituindo uma atividade automática da mesma, chamada ação secundária ou reação.”

O medicamento que possui as propriedades de curar o indivíduo, ou seja, reestabelecer o equilíbrio, eliminando os estados mórbidos, é aquele que, na sua personalidade, sintomas semelhantes aos apresentados pelo doente. O eminente Dr Marcus Zulian Teixeira afirma que “o modelo homeopático de tratamento das doenças utiliza o ‘princípio da semelhança’  como  método  terapêutico, empregando  medicamentos  que  causam  determinados  sintomas em indivíduos sadios para tratar sintomas semelhantes em indivíduos  doentes (similia  similibus  curentur), com  o  intuito de estimular uma reação curativa do organismo contra os seus próprios distúrbios. Esta reação secundária (vital, homeostática ou paradoxal) do organismo está fundamentada no estudo do ‘efeito rebote’ dos fármacos modernos, evento adverso que pode causar transtornos graves após a descontinuação de diversas classes de tratamentos convencionais que utilizam o ‘princípio dos contrários’ como  prática  terapêutica (contraria  contraris  curentur)”.

Namastê!